CPI na Câmara investigou demora em atendimentos, falta de médicos e fechamento do Hospital Municipal;
Na primeira semana do ano, o protocolo de atendimento de pacientes que buscavam o sistema público de saúde de Ponta Grossa passou por alterações para otimizar o fluxo de trabalho nos locais e a absorver a demanda.
Os casos de Covid-19 aumentaram após as festas de fim de ano. As mudanças englobaram a triagem nas Unidades de Saúde e de Pronto Atendimento (UPA) e a disponibilização das vagas para atendimento nas Unidades de Saúde.
Ainda na primeira semana, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), testou positivo para a doença e teve que permanecer em isolamento. Quem também testou positivo em janeiro foi a prefeita Elizabeth Schmidt. Ela estava de férias e ficou em isolamento em casa.
Em fevereiro foi a vez do bispo da diocese de Ponta Grossa, dom Sérgio Arthur Braschi. Em tratamento contra um câncer, ele testou positivo para a Covid-19 e teve que reagendar sessões de quimioterapia.
Os números da Covid-19 saltaram no início do ano e as farmácias e laboratórios de Ponta Grossa registraram aumento na procura de testes. O primeiro caso da variante Ômicron foi confirmado no dia 12 de janeiro no Paraná.
No entanto, a CBN publicou reportagem sobre um levantamento do Laboratório Universitário de Análises Clínicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Luac-UEPG) que identificou a presença do vírus desde o ano anterior.
Com o aumento de casos, o Ginásio Oscar Pereira foi transformado em uma espécie de gripário para atendimento da população com sintomas. O objetivo era atender pessoas com casos respiratórios leves.
Ao mesmo tempo, 17 Unidades Básicas de Saúde tiveram que ser fechadas diante da alta quantidade de servidores afastados.
Além da pandemia, no início do ano, o Paraná teve que decretar epidemia de H3N2. A decisão foi tomada por causa do aumento no número de casos diários da Influenza e mortes em decorrência da doença.
Em meio a alta de casos, a vacinação contra a doença avançava na cidade. Em janeiro, uma força-tarefa da saúde iniciou a imunização de crianças de cinco a 11 anos. Em Ponta Grossa eram mais de 37 mil crianças aptas a receber a vacina que tinham que ser cadastradas e chamadas para a aplicação.
Mas tumultos foram registrados principalmente na Estação Arte, principal local de imunização. Isso porque muitas pessoas que não tinham agendado entravam nas filas para receber as doses da vacina, na expectativa de sobras.
Em fevereiro, as aulas presenciais na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) começaram a ser retomadas. A instituição exigiu o comprovante da vacina contra a doença e criou um Ambulatório de Triagem e Monitoramento para acompanhar os casos de na comunidade universitária.
Com a baixa de casos em março, o governo do Paraná encaminhou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que revogava o uso obrigatório da máscara no estado. Com a sanção do governador Ratinho Junior, o uso do equipamento em lugar aberto foi desobrigado.
A decisão foi seguida pela prefeitura de Ponta Grossa. Pouco mais de 10 dias depois, o uso não era mais obrigatório em locais abertos e fechados.
A polêmica do fim do pronto socorro infantil continuou em Ponta Grossa em 2022. Em janeiro, o Ministério Público do Paraná solicitou a instalação de um novo pronto socorro para o atendimento de crianças.
O órgão entendeu que a Unidade de Pronto Atendimento Santa Paula não conseguia suprir a demanda no município. Já a prefeitura sustentou que o atendimento primário para crianças deveria ser feito nas UBSs e casos urgentes deveriam ser tratados nas UPAs.
Com a pressão diante de filas e superlotação do sistema de saúde, a prefeitura anunciou em abril a retomada do Pronto Atendimento Infantil no Hospital Universitário Materno-Infantil. O atendimento seria integrado ao sistema do município através de uma parceria da Prefeitura com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e o Governo do Estado.
Somado a isso, em março o centro cirúrgico do Hospital Municipal Doutor Amadeu Puppi foi fechado após avaliação da Vigilância Municipal. Os pacientes foram direcionados a outros hospitais. Segundo a Administração, o fechamento foi necessário por problemas na estrutura do telhado do local e não tem relação com questões de higiene.
O Hospital Municipal realizava em média seis cirurgias por dia, entre ortopédicas de média complexidade e cirurgias gerais. Quinze dias depois, os problemas estruturais da unidade fizeram com que todo o hospital fosse fechado para reformas.
A avaliação da prefeitura era de que existe um problema crônico, já que o Hospital nunca passou por reformas completas desde a inauguração, há cerca de 45 anos. O fechamento foi necessário porque a obra seria feita também na parte elétrica e hidráulica da estrutura.
Os pacientes foram transferidos para unidades da cidade e da região. Segundo a prefeita, a decisão de suspender os atendimentos foi tomada principalmente por causa das chuvas. A estimativa era de que a obra custaria cerca de R$ 12 milhões.
Ao longo do ano, tratativas foram feitas com o estado para o destino do hospital, que poderia ser responsável pelo tratamento de traumas. Mas em setembro, um protocolo de intenções foi assinado para transformar a estrutura em um Ambulatório do Hospital Universitário da UEPG.
No que seria o auge da crise da saúde de Ponta Grossa, o secretário Rodrigo Manjabosco foi exonerado do cargo no final de abril. A demissão foi anunciada por meio de nota oficial. De acordo com Elizabeth Schmidt, a mudança de comando "se deu pela necessidade de um novo modelo de planejamento e gestão para a saúde".
A prefeita Elizabeth Schmidt assumiu interinamente a presidência da Fundação Municipal de Saúde, mas o decreto de nomeação foi revogado um dia depois. Para tentar resolver os problemas, a prefeita anunciou cinco medidas que reorganizaria o sistema de saúde do município.
Por meio da assessoria de imprensa, a prefeita afirmou que cansou da “lentidão e da falta de planejamento” e pediu desculpas para “as mães e para as pessoas que não foram bem atendidas no sistema de saúde da cidade”.
Ela determinou a retomada do atendimento infantil. Com isso, a Unidade Básica de Saúde Sady Silveira foi transformada em Centro de Atendimento da Criança.
A prefeita anunciou, ainda, a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro de Uvaranas, próximo ao Terminal, com previsão de ser finalizada no ano que vem. Anunciou também a reforma de outras 15 Unidades Básicas de Saúde.
A nova secretária de Saúde, Juliane Dorosxi só foi nomeada em agosto. A falta de vagas para internamentos também foi um problema enfrentado em Ponta Grossa em 2022. Em maio, um idoso morreu na UPA Santana enquanto esperava um leito de hospital.
A CPI investigou os atendimentos de saúde, a contratação de médicos, os estudos para fechamento de Unidades Básicas de Saúde, remanejamento das equipes e a demora por atendimentos.
Quase seis meses depois, a Comissão finalizou o relatório e apontou irregularidades e omissão na gestão da saúde do município.
Conforme a CPI, 40 pessoas foram ouvidas nesse período, incluindo ex-secretários e servidores da saúde do município.
Em outubro, quase 6 mil doses de vacinas contra a Covid-19 perderam o prazo de validade em Ponta Grossa. A denúncia foi feita por integrantes da CPI que criticaram a sistema de vacinação.
A presidente da Fundação Municipal de Saúde, Juliane Dorosxi, participou de uma sessão da Câmara Municipal para explicar o caso. Ela disse que o motivo do vencimento foi a baixa procura e que a secretaria não abaixou a faixa etária porque dependia de estudos técnicos.
Outro desafio enfrentado em Ponta Grossa foi a falta de medicamentos em farmácias. Redes relataram escassez de remédios principalmente para o tratamento de doenças respiratórias. No município, não houve falta de remédios nos hospitais, mas a dificuldade na compra de alguns medicamentos.
Em maio, um convênio para a construção do Instituto Médico Legal foi assinado em Ponta Grossa. A estrutura vai ser construída no Campus Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com investimento de cerca de R$ 13 milhões e deve ficar pronta até novembro do ano que vem.
No local, será construída a sede da Polícia Científica, com o Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal. O convênio prevê ainda um Centro de Anatomia para aulas e pesquisas desenvolvidas nos cursos da área da saúde da UEPG.
As necropsias e exames são realizados em um espaço provisório em anexo ao Hospital Universitário Regional desde 2018, quando a sede do IML no bairro Nova Rússia foi interditada para obras em um muro que ameaçava cair.
Uma reportagem publicada pela CBN trouxe a preocupação de funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) nos Campos Gerais com o atraso no pagamento de salários.
O contrato com a empresa foi suspenso e outra assumiu os serviços. Outra reportagem publicada pela CBN revelou que metade das mortes de bebês de até um ano de idade poderiam ter sido evitadas em Ponta Grossa em 2021.
O levantamento foi feito pelo Observatório de Saúde na Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase).
Com o aumento do piso da enfermagem, hospitais filantrópicos temem suspender atendimentos. Foi o caso da Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa, que sinalizou em um ofício que áreas como Oncologia, Nefrologia e Hemodiálise “serão drasticamente afetadas com riscos fatais”.
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