Não nego o desespero que muitos empresários se encontram, pais de família, pessoas
desempregadas ou com grande possibilidade de perder o emprego. Cada vez mais a
angústia demonstra o quanto temos uma relação de dependência de condições diárias.
Grande parte da população vive de um trabalho de ganho diário, um dia atrás do outro,
como afirma o ditado, “da mão para a boca”.
Agora, grande parte das pessoas se encontram sem saída. Pensando no que fazer
diante de uma situação de perda de renda, do empreendimento, da possibilidade de
sobrevivência. Tudo o que se tem se perde. Mas o que se perde? Por que nossa
condição de sobrevivência se sustenta em algo que tão perecível?
Acredito que grande parte das pessoas não pensavam que poderíamos ser abalados
por uma pandemia como essa. Se ela deu sinais em dezembro do ano passado, poucos
dimensionaram a sua capacidade de chegar até nós e fazer o estrago que está fazendo.
Nossa cabeça estava em outro lugar, na nossa vida diária, nossas coisas imediatas. Não
somos educados para a cultura da prevenção por termos na nossa história inúmeras
tragédias que exigiram de nós recuperação. Por sinal, hoje, nossos hábitos nos
condenam.
Vivemos sem pensar nas consequências de nossos atos em longo prazo. Não pensamos
em possibilidades que independem de nós e que podem interferir em nossas vidas.
Não planejamos pensando em década, no máximo em anos, e mesmo assim são
poucos. A grande maioria pensa no dia a dia. Construímos uma sociedade que vive da
condição que está, aceita a si como é e não pensa na transformação como algo comum.
Tememos a miserabilidade porque grande parte de nós já estão na miséria.
Vivemos com a mão de obra desqualificada, com a pouca inovação, aceitamos
constantemente o mínimo porque queremos o máximo agora mesmo que isso
signifique a destruição de possibilidades no futuro. Não investimos na mudança. Isso é
nosso, da nossa característica enquanto sociedade construída da permanência da
estagnação.
Talvez, ao pensarmos que os portugueses implantaram os engenhos no Brasil e a
estrutura se manteve por mais de três séculos, nunca mudamos a forma de produzir.
Queríamos sempre comercializar com lucro o mesmo produto sempre feito da mesma
forma. A inovação não faz parte de nossa sociedade. Dizem que o brasileiro é criativo,
sim, mas não sai muito do lugar com a criatividade que visa sempre a sobrevivência e
não a superação.
É hora de mudar. Se queremos não ter mais abalos e deixar que nossa fragilidade nos
condena, temos que investir nas pessoas. Saber fazer a mudança da forma adequada
para que seja o crescimento sólido e permanente. Temos que romper com o
imediatismo. Ser produtivos de forma inteligente. Agir pela qualidade e não pela
comodidade de uma forma de produção que nos traz sempre os mesmos resultados.
Ouça o comentário de Gilson Aguiar para a CBN Ponta Grossa: